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Inicia a Quaresma, esse tempo favorável de escuta: escuta atenta da Palavra de Deus que renova, escuta do amor misericordioso de Deus que salva e escuta dos irmãos de caminho que pedem o melhor de nós. São 40 dias favoráveis a um percurso espiritual com consequências concretas e visíveis nas práticas cristãs da oração, do jejum e da esmola.
Porém, esta Quaresma de 2022 é tempo duplamente favorável: decorre em pleno tempo de escuta sinodal na nossa diocese. É uma fase de preparação do Sínodo, rica e envolvente, em que tudo inicia na necessidade de uma escuta renovada de Deus e dos irmãos, que ilumine, incentive e dê esperança no futuro. Um tempo que apela à reciprocidade: escutar e ser escutado. É bom não o esquecer: o Sínodo é um capítulo da história da salvação que Deus opera na Igreja universal. Podemos sonhar juntos uma Igreja diversa: mais gerada que gerida, mais caminho que estacionamento, mais casa do Povo de Deus em saída que clube de praticantes. Escutar a todos faz bem à própria Igreja.
Servem-nos três símbolos expressivos para viver juntos a experiência sinodal em tempo de Quaresma: o deserto, o caminho e a cruz.
1. O deserto
Neste tempo favorável, a Liturgia do 1º domingo da Quaresma propõe-nos o relato das tentações de Jesus no deserto, convidando a olhar o lugar de Deus na própria vida e a qualidade da missão que nos anima. À tentação dos bens, do poder ou de uma missão triunfal, a Palavra ressoa forte: “nem só de pão vive o homem” ou “só a Deus adorarás”!
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2. O Caminho
Após as tentações no deserto, Jesus deu início à missão: anunciar o Evangelho do reino. Para tal, chamou um grupo com quem caminhar, começou a ensiná-los ao longo do caminho, mergulhou-os no mistério da Sua Paixão, Morte e Ressurreição. Um longo caminho, sem pressas e sem queimar etapas. Só perceberiam plenamente quando, após a ressurreição, receberam o Espírito Santo.
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3. A cruz
Este último símbolo é enriquecido com as imagens que nos chegam da peregrinação dos símbolos da Jornada Mundial da Juventude que percorrem as dioceses do país e chegarão até nós em outubro. Quando é transportada, precisa de um grupo que a carregue! Como se Cristo, o verdadeiro Senhor da cruz, fosse “esse grupo” de pessoas, unidas pelo ritmo conjunto da passada, jovens ou outros, que a levam com veneração. Ali, vimos sobretudo jovens centrados no Amor radical de que Jesus é modelo; jovens que mostram à Igreja a pressa do amor que une a todos numa única fraternidade; jovens que não querem ir à frente nem atrás dos mais velhos ou mais novos, de padres ou bispos, de leigos muito crentes ou homens descrentes, mas querem seguir juntos. São imagem da Igreja peregrina, não acomodada e envelhecida. Também podemos ir com eles, prontos a transportar a mesma cruz de Cristo nos sofrimentos próprios e nos da humanidade sofredora. Nela podemos descobrir a presença amorosa de Deus, sobretudo se, ao lado, alguém caminha e ajuda a carregá-la, qual mão amorosa, sinal da proximidade de Deus.
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