Santa Teresinha, a santa da confiança, nos ensina a acreditar não quando nós temos as seguranças. Mas, confiar quando nos é tirado o tapete.
Isto é, acreditar pelo absurdo, através do absurdo e contra o absurdo. Porque a confiança é cada vez mais exigente, Deus vai pedindo cada vez mais nesta relação de confiança, e nós não confiamos em Deus pelas coisas que Deus nos dá, mas confiamos em Deus pelo próprio Deus e, nesse sentido, tudo o que Ele nos dá é relativo, ainda que Ele não nos desse coisa nenhuma, nós continuaríamos a acreditar Nele.
Santa Teresinha do Menino Jesus dizia isso: é muito fácil acreditarmos em Deus porque toda a nossa perspetiva de vida, aquém e post mortem, é uma vida em que recebemos tantos dons de Deus. Se eu penso que vou morrer e depois vou para o céu, de certa forma são tantas as garantias que me seguram neste caminho de fé, que eu vou como que embalado, sem nunca ter sido para mim um drama, sem nunca para mim ter sido um dilema, uma questão de vida ou de morte, eu ter acreditado em Deus.
Mas, como confiar quando nos é tirado o tapete? Ora, a fé é também prova, é também provação. E a prova, no fundo, nasce desta questão: eu estou disponível para acreditar em Deus sem garantias? Eu estou disponível para acreditar em Deus indo para lá das garantias e relativizando-as completamente?
A fé, muitas vezes, é eu passar para o meio da luta, é eu, pelo contrário, sentir-me exposto, é eu, pelo contrário, sentir que o meu coração está em carne viva, que não tenho respostas, que não consigo, que não chego, mas é aí, no meio desse duelo que tantas vezes travamos connosco mesmos, com o mundo, com a existência, é aí que a fé se reforça, que a fé se constrói. Não como um caminho amparado por muletas, mas como um caminho, ‘A Pequena via’, trilhado na confiança, simplicidade e abandono, que Deus há de manifestar.
| Cardeal D. José Tolentino Mendonça (Homilia)
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