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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

APRENDER A GOSTAR DO OUTONO

 A vivência compassada com o ritmo natural das estações do ano, principalmente no campo, leva a amar qualquer uma daquelas e consegue esculpir no ser humano uma grande capacidade de observação e uma fina sensibilidade do sentir, por vezes contrapostas à aparência das feições ou das suas vestes.
Enquanto jovem, o outono era para mim a estação do ano menos amada. A tristeza e a melancolia que a sua cor e luminosidade me causavam eram indescritíveis, contrariamente ao inverno que sempre vi como a estação da esperança, porque o frio, a chuva, a neve e todo o despojamento da natureza convidavam ao aconchego e à espera da primavera que sabíamos que ia chegar.
O habitar outros lugares e o adaptar ao ritmo do relógio leva-nos a estar mais alheados do ritmo natural do “girar” deste planeta azul, no “trânsito” ordenado do universo que o Pai cuida todos os dias, porque criado com amor e dedicação.
Diferentes lugares e um ritmo urbano muito repetitivo levaram a que os dias do outono passassem mais despercebidos e a que o visse por outros ângulos. E também com outro olhar! Ou noutra perspetiva? Sim…porque a idade coloca-nos mais adiante, noutro ponto do caminho, e assim mudando o ângulo de onde vemos, também muda o que vemos.
Mas seja o que tenha mudado – a forma de olhar ou o ponto de onde se olha – o facto é que hoje, pelo recanto da minha janela, estendo o meu olhar até onde ela me deixa, e em dias de sol aprecio o dourado da folhagem, num espaço verde próximo, ou quando posso ver o pôr-do-sol, aprecio como ele doura o mar e o horizonte, permitindo ver a lua e as estrelas quase parecendo que outro mar se avista.
Em face da grandeza da tela, da quantidade de tinta, da variedade e beleza da palete de cores, e mesmo nos dias em que a chuva canta e embala, e o vento tudo abana e empurra, no divagar do pensamento, em frente de qualquer vidraça, dou por mim a descobrir a marca do Criador, tal como se reconhece a obra pelo traço ou pela marca, sem necessidade da assinatura ou da fotografia do seu autor.
Ninguém nem nenhuma coisa coexiste sem estar em relação.
Reparo como as folhas se desprendem das árvores e, varridas pelo vento, se entregam à terra para dar lugar às futuras folhas, mas não sem antes se dar de alimento à própria árvore que, fortalecida, há de suportar toda a gestação primaveril.
Tudo por tudo! Num ciclo de nascer e renascer, onde a morte dá lugar à vida, sempre em transformação. Num amor desmedido e intemporal. Sem reclamação. Sem nostalgia.
 A mesma radicalidade do Amor. A mesma entrega sem condições.
Só podem ser traços do Criador Infinitamente Bom.

29.11.2012
C.R

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