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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

5º CICLO DE CONVERSAS AMPLAS: último painel de convidados

5.ª Conversa com:
Filomena Bernardo;  João Armando Gonçalves; 
Ricardo Alves Ribeiro e  Faustino Vaz
Nesta última “Conversa”, em que o casal Denise e Zé, apresentou o painel de quatro pessoas, cada uma com a sua história, o seu percurso, a sua identidade…todas com um testemunho de vida vivida com intensidade e por inteiro, conferiu-lhe uma riqueza acrescida, pois qualquer um dos testemunhos daria, com certeza, uma conversa extensa.
Sendo o tema do Ciclo deste ano “identidade e realização pessoal”, não deixou de ser interessante ficar para a última sessão exatamente a tentativa da definição do que é, afinal, a identidade pessoal ou o que é que nos confere essa identidade.
Em filosofia – explicava-nos o professor Dr. Faustino Vaz – nos últimos três séculos tem-se vindo a discutir a nossa identidade pessoal. O que preserva a nossa identidade, de molde a que hoje seja e me identifique(m) como a pessoa que era.
E, para melhor compreendermos este pensamento do que é que nos faz sermos os mesmos hoje, o professor levou-nos a viajar na imaginação e pensar no barco de madeira do pescador que se vai deteriorando com o tempo, que o pescador vai conservando e substituindo as tábuas e um seu vizinho, também ele pescador, vai juntando essas tábuas velhas, consertando-as e com elas construindo um barco. Um dia, encontram-se no mar os dois pescadores, cada um com o seu barco, pergunta-se qual dos dois é o barco original?
A ciência explica que o nosso corpo, de cinco em cinco anos, se renova e os átomos de que as células são compostas são novos. Então, o que é que mantém a nossa identidade pessoal? A matéria do corpo parece não ser, então, essencial para essa identificação.
Há algumas teorias que vão ensaiando a explicação para essa identidade. São elas a teoria da alma, segundo a qual o que determina a nossa identidade pessoal, o ingrediente que nos dá a identidade ou que nos identifica é a alma, enquanto unidade indivisível. 
Outra teoria é a de que eu sou hoje a mesma pessoa que fui porque tenho continuidade corporal.
Outra teoria explica que a nossa identidade está na continuidade mental e há ainda uma outra que, baseada na evolução tecnológica que permite perceber melhor o funcionamento orgânico do nosso corpo, explica que não há uma continuidade que nos identifica. Somos, afinal, uma coleção de itens mentais organizados e nada mais, não havendo unidade por trás deles.
Independentemente da teoria que possa explicar o que confere a identidade pessoal, pensa-se que esta existe e se estivermos muito preocupados com essa identidade, então não fazemos grandes coisas, mas se, pelo contrário, não tivermos essa preocupação tornamo-nos mais benevolentes para com os outros e capazes de grandes causas. 
Após esta pequena “lição” de filosofia, dada pelo moderador do painel, os restantes intervenientes partilharam cada um a sua história de vida. 
 
 João Armando Gonçalves, presidente do comité mundial do escutismo começou por contar a história da Rita que, depois de uma entrevista de emprego, lhe ligou para dizer que fora capaz naquela entrevista de falar que tinha capacidade para liderar, para gerir projetos e para muitas outras coisas. E foi capaz porque o aprendeu no escutismo. 
Esse momento marcou-o porque o escutismo é um movimento de educação não formal, onde se aprende a ultrapassar obstáculos, a resolver problemas, a “dar a volta” quando alguma coisa corre mal, sempre num ambiente de aprendizagem onde se pode experimentar e errar. É como um campo de jogos, com algumas regras, onde se joga, se perde e se ganha sem medo de errar. E quando há experiências de impacto pessoal positivo, essas experiências deixam marcas para toda a vida. 
Na construção da identidade, o escutismo proporciona também experiências espirituais. Há um lastro que o escutismo consegue construir e em cima desse lastro continuará a “edificação”, porque somos seres em construção.
Filomena Bernardo, animadora social, partilhou connosco a sua história de vida com doença crónica. Vida que ela considera que, a partir do diagnóstico da sua doença, aos 33 anos, é que passou a ser vivida por inteiro. A sua história fez-nos sentir pequenos, pois o que poderíamos considerar a sua fragilidade era, afinal, a sua força, o móbil da sua entrega e da vivência com sentido. Como ela dizia, referindo-se a muitos doentes com doença crónica, como guerreiros, “Nós não somos doentes, doentes são muitos que por aí andam e que nunca foram ao médico”.
Desde o diagnóstico do cancro da mama, aos 33 anos, passando por um AVC, um aneurisma e outros problemas, tendo realizado já 17 intervenções cirúrgicas, fê-la questionar-se sobre o que tinha feito de bom até ali. Então, a partir dos 33 anos passou a fazer catequese, eventos de solidariedade e muitas outras coisas.
Acredita em primeiro lugar em Deus, depois em si e depois nos médicos.
A construção da identidade tem de ser feita em complemento com outro tipo de educação. A sua vida estava agora centrada em causas e não nos seus interesses.
O Ricardo Alves Ribeiro, que revelou uma grande coragem ao aceitar este convite, tendo em conta que grande parte das pessoas presentes o conhecia, mas mesmo assim quis partilhar a sua história de vida, marcada por um percurso de avanços e recuos. A partir do momento em que se questionou na sua identidade e assumiu que havia problemas a resolver, encontrou caminhos a percorrer que podem levar a outros lugares onde a realização pessoal pode acontecer. 
E são esses caminhos que ele percorre agora, com metas a atingir, a esperança a renascer para uma vida com realização pessoal, rumo à felicidade.
Se fosse necessário tecer uma pequeníssima urdidura com os fios daquelas experiências de vida, atrevíamo-nos a dizer:
1.  “Quem sou eu?” É uma questão crucial que todos se colocam; 
2.  A identidade constrói-se na educação;
3. A questão da identidade coloca-se com mais acuidade nas situações mais difíceis, de maior sofrimento;
4. Quando nos colocamos a questão da identidade, temos a iniciativa da ação;
5. A felicidade encontra-se nos momentos em que colocamos o acento tónico na benevolência com os outros e não nos nossos interesses;
6. A questão de Deus está sempre presente nos caminhos da felicidade.
 
Bem hajam pelos vossos testemunhos, pela vossa partilha de experiências, porque preenchem de esperança as nossas e ajudam a reduzir a dimensão dos “problemas” da vida de alguns de nós.
03.02.2016
Agradecimentos:
Equipa da Pastoral da Família
Grupo Dramático de Vilar do Paraíso
União de Freguesias de Mafamude e Vilar do Paraíso
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia
FotoMartinhoValadares
Pedro Nobre  www.cca.2you.pt/

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