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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

PEREGRINAÇÃO Á TERRA SANTA - "Subamos a Jerusalém"


A peregrinação à Terra Santa, aos lugares onde viveu o nosso Salvador Jesus Cristo, decorreu em ambiente de muita tranquilidade em que todos os participantes se sentiam imbuídos de verdadeiro espírito de quem se sente peregrino. Havia a princípio, alguns receios, pois tínhamos consciência de que iríamos visitar uma zona do globo, onde embora o encontro de Deus connosco tenha sido anunciado como de “paz aos homens por Ele amados”, sabemos ser palco de graves, e quase permanentes, conflitos. A peregrinação teve início em 30 de Julho e decorreu até 5 de Agosto. Após a chegada a Tel Aviv, a 29, no dia seguinte visitámos a cidade de Jaffa (antiga Jope), onde Pedro recebeu inspiração de anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo aos pagãos.
Subimos ao monte Carmelo onde, segundo o Antigo Testamento uma gruta agora localizada num convento carmelita, se refugiou o profeta Elias cerca do séc. IX a.C.
A peregrinação prosseguiu para Nazaré, onde evocamos o acontecimento da Anunciação e o “faça-se de Maria” ao projecto que, pelo anjo, Deus lhe apresentava – ser a Mãe do Messias Salvador. Aqui celebramos a Eucaristia da Festividade da Anunciação e tomamos maior consciência da importância da resposta que cada um de nós deve dar ao projecto que Deus tem para cada um de nós. 

Concluída a celebração, partimos para uma localidade nas margens do rio Jordão – Yardenit – onde, segundo a tradição, Jesus foi baptizado por João Baptista. Mesmo quase em cima do leito do rio, todos os membros do grupo renovámos os compromissos baptismais e cantámos com o coração e os lábios: “Sois a obra das mão de Deus, criados em Jesus Cristo… Ó torrente abençoada que o mundo inteiro lavas; trazes morte, dás a vida pela força do Espírito. Aleluia!… Quem crê em Jesus Cristo e na água é lavado, pelo Espírito da vida, nasce filho do Deus vivo. Aleluia!... Sois a obra das mãos de Deus, criados em Jesus Cristo…” 

No dia 31, a peregrinação situou-se nas margens do Mar da Galileia, fomos transportados aos lugares onde Jesus elegeu e chamou os doze, fazendo-os pescadores de homens e onde se reviveram as passagens evangélicas em que Jesus fala do Reino de Deus Ele anuncia e realiza com sinais e milagres. No Monte das Bem-aventuranças escutamos a voz do Mestre a dizer-nos: 
“Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu; felizes os que choram, porque serão consolados; felizes os mansos, porque possuirão a terra; felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados; felizes os misericordiosos porque alcançarão misericórdia; felizes os puros de coração, porque verão a Deus; felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus; felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu; felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque será grande a vossa recompensa no Céu.”
 
Aqui celebrámos a Eucaristia e em seguida visitámos a Basílica construída onde, segundo a tradição Jesus fez a multiplicação dos pães e dos peixes, prefigurando o que haveria de fazer na última Ceia, em que Ele nos deixou a sua Palavra e o seu Corpo e Sangue como alimento para a Vida Eterna, que é dado pela multidão. Visitamos ainda a Igreja construída no local onde Jesus constitui Pedro como o primeiro entre os Apóstolo. 
 
Na cidade de Cafarnaúm onde Jesus realizou a maior parte das suas actividades de anúncio do Reino de Deus, visitamos a igreja de São Pedro construída sobre as ruínas da casa de Pedro a que se seguiu uma pequena viagem de barco recordando e revivendo os acontecimentos narrados nos evangelhos, nomeadamente o episódio da tempestade em que Jesus diz a Pedro: “Porque duvidaste, homem de pouca fé?” Depois de subirem para o barco o vento cessou e os que estavam no barco, aproximaram-se d’Ele, adoraram-nO e disseram: “Verdadeiramente, este é o Filho de Deus!” De seguida, ainda em Cafarnaúm, visitamos um museu onde está exposta uma embarcação que data do tempo de Jesus.
Em Caná, da Galileia, onde segundo a tradição, Jesus mudou a água em vinho para alegria dos noivos que O haviam convidado para as bodas. É início da vida pública de Jesus, que vem convidar toda a humanidade para as bodas no Reino, que Ele inaugura. Na igreja, que evoca esta passagem dos evangelhos, os casais participantes na peregrinação renovaram os seus compromissos matrimoniais, concluindo-se a celebração, cantando toda a assembleia: “Por Tuas mãos foram criados, à Tua imagem homem e mulher; por Tuas mãos foram criados, Tu deste-lhes a vida….”. Este momento calou fundo em todos os presentes.
Depois subimos ao Monte Tabor, uma íngreme elevação de terreno onde Jesus, depois de ter estado em oração, se transfigurou e foi visto resplandecente por Pedro, Tiago e seu irmão João, entre Moisés e Elias, que simbolizam a lei e os profetas. Jesus, colocado ao centro, é a nova Lei, com que Ele vem inaugurar o tempo novo, o tempo da Nova Aliança , o Reino de Deus...
No dia 1 de Agosto, domingo, depois de uma viagem, mais de carácter cultural, com uma visita às ruínas de Petra, onde viveu até à sua completa exterminação pelos romanos, a tribo dos Nabateus. Terminamos este dia com a celebração da Eucaristia numa igreja pertencente a uma pequena comunidade católica, do rito grego, de Amann, na Jordânia, cujo padre responsável nos recebeu saudando o padre português que connosco também fazia a peregrinação (o Pe Adélio Abreu) dizendo: “Bem-vindo à tua Igreja!” Este gesto simples de simpatia, tocou-me, e lembrou-me a catolicidade e beleza da nossa Igreja: “Santa, católica…” 

O dia 2 de Agosto, foi marcado com a subida ao Monte Nebo, o ponto donde Moisés, que não entrou na Terra Prometida, a avistou ao longe. As condições climatéricas não nos permitiram, lá do alto, ter a visão que Moisés contemplou – o deserto, o mar Morto, o rio Jordão, e lá ao longe a Terra Prometida, aquela terra onde corre leite e mel… 

“Que alegria, quando me disseram…” 
No dia 3 de Agosto, deixámos as margens áridas do mar Morto e rumámos em direcção à Cidade Santa de Jerusalém. Muitos quilómetros percorridos através do deserto em direcção a Jerusalém; foi possível ver, à direita e à esquerda da estrada que serpenteia o deserto, alguns acampamentos de pastores que acompanham permanentemente os rebanhos. Bastava fechar os olhos e imaginar como se vivia no tempo de Jesus na sua terra natal… Foi de grande emoção e contentamento interior, deixar o deserto e chegar à cidade Santa de Jerusalém: “Que alegria, quando me disseram: vamos para a casa do Senhor. Os nossos passos se detêm às tuas portas, Jerusalém!” 
Que alegria! Que emoção!... 
Atravessamos a cidade em direcção a Belém (casa do pão) onde nasceu Jesus. Chocou-me ver a cidade murada. Afinal Ele veio trazer a paz aos homens de boa vontade e, deparava-se-nos um cenário de violência latente, por detrás de todas as medidas de segurança, que, se os homens soubessem aceitar o dom que Ele é, seriam perfeitamente dispensáveis. Foi espantosa a afabilidade, simpatia e alegria, apesar das enormes dificuldades como o povo Palestiniano vive dentro dos muros, a forma como a guia turística, uma cristã palestiniana, nos acolheu e conduziu durante a permanência em Belém. Na Basílica da Natividade celebramos a Eucaristia na qual fizemos memória dos acontecimentos que deram início à nossa salvação – o nascimento em Belém de Judá do nosso salvador Jesus Cristo. Um misto de veneração e emoção nos invadiu interiormente ao visitar este lugar. Aqui tomou forma humana Jesus Cristo, nosso Salvador!... Aqui Deus e o homem abraçaram-se em Jesus Cristo!

No dia 4 de Agosto, logo de manhã, partimos para o Monte das Oliveiras, de onde se pode contemplar a magnifica cidade Santa de Jerusalém, a igreja que lembra o episódio evangélico da Ascenção de Jesus ao Céu. 
Pudemos observar, no local onde se supõe que Jesus terá ensinado a Oração Dominical, um painel de azulejos onde se pode ver o Pai-Nosso escrito em cento e dezasseis línguas.

Os nossos olhos humedecem-se ao olhar para aquela cidade. A nossos pés, o vale do Cédron e na margem oposta a cidade Santa de Jerusalém! Quem não se espanta, depois de ter percorrido centenas de quilómetros pelo deserto, com o brilho dourado da cidade de Jerusalém?...
A meio da encosta a igreja que evoca as lágrimas de Jesus sobre a sua cidade. Aqui, celebramos a Eucaristia de olhos fitos na cidade e, ouvidos e coração sintonizados na palavra de Jesus, chorando sobre ela: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados!” 
No Jardim do Gétsemani lembramos o desalento dos apóstolos, a agonia e as palavras de Jesus àqueles que O acompanhavam: “Nem sequer pudeste vigiar uma hora comigo?”… e ainda “Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que eu o beba, faça-se a Tua vontade!”

Subida ao Monte Sião, para contemplar o Cenáculo, a sala onde Jesus se reuniu para comer a Páscoa com os seus discípulos, fez a última Ceia e institui a Eucaristia: “Tomai, comei, isto é o meu corpo. Tomou o cálice, deu graças e entregou-lho dizendo: Bebei dele todos. Porque este é o meu sangue, sangue da Aliança, que vai ser derramado por muitos, para remissão dos pecados.” 

Visitamos o Túmulo do Rei David, a igreja que evoca o canto do galo por ocasião da negação de Pedro. Sobre estas pedras andaram os pés de Jesus. 
Depois ainda vistamos a Basílica da Dormição de Maria, Mater Dei e nossa Mãe. Como Maria, que nos precedeu, teremos lugar junto de Deus, no Céu onde Ela se encontra, porque sempre viveu unida a Ele.

No dia 5 de Agosto, subida à cidade velha de Jerusalém. No caminho, por ruelas estreitas lembrando os tempos de Jesus, vivemos os acontecimentos que antecedem a entrega total de Jesus na cruz por nós, fazendo da sua Via-Sacra, a via-sacra da humanidade inteira (desempregados, marginalizados, perseguidos por causa da justiça, perseguidos por causa da sua fé, toxicodependentes, vítimas do ódio e da violência, crianças vítimas de violência antes e depois de nascer…) No percurso da Via-Sacra, visita à casa daqueles, que os evangelhos apócrifos chamam de pais de Maria, Joaquim e Ana; visita à piscina probática de Betsaida onde Jesus curou um paralítico que ali permanecia há vários anos; visita ao Litostrotos, cenário do processo público movido contra Jesus, o pátio da Fortaleza Antónia onde Jesus foi condenado à morte e onde começou a Via Dolorosa. Concluído o caminho da cruz, entramos na Basílica do Santo Sepulcro. Um silencioso lugar onde não iríamos encontrar os sinais da Ressurreição do Senhor, porque, após, Ele é agora visível de outra forma, particularmente na comunidade que, no Memorial da Sua Paixão, Morte e Ressurreição, celebra a Vida, a vida nova que Ele inaugurou. Vimos, pelo contrário, o Seu corpo dilacerado pela divisão entre os seus discípulos. No entanto, antes de derramar o Seu sangue pelos homens, Jesus falou ao Pai dizendo: “Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim, por meio da sua palavra para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que o assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste …” É um espaço para os cristãos ortodoxos da Etiópia, um espaço para os cristãos ortodoxos gregos, outro para os cristãos de rito latino… Estará Cristo dividido? 

Depois de visitarmos o local em segundo a tradição veneramos o túmulo do Senhor, celebramos a Eucaristia, porque sempre que comemos deste Pão e bebemos deste Vinho anunciamos ao mundo a Ressurreição do Senhor. A Eucaristia é o Memorial do único e definitivo sacrifício de Cristo para a salvação da humanidade. Sabemos e acreditamos que Ele está vivo, no meio de nós, sempre que tornamos actual em cada Eucaristia a sua entrega por nós. Está vivo e manifesta-se presente na pessoa do padre/bispo que na Pessoa de Cristo preside à Eucaristia; está vivo e presente na assembleia em Seu nome reunida, está vivo e presente na palavra proclamada e no Pão e Vinho consagrados que são sinal do seu amor até ao fim. Isto mesmo queremos dizer, quando: “Sempre que comemos deste Pão e bebemos deste Vinho anunciamos ao mundo a Ressurreição do Senhor!”
“Eu vi a Cidade Santa, a Nova Jerusalém, que descia do Céu de junto de Deus, qual esposa adornada para Seu Esposo…
Que alegria quando me disseram: vamos para a casa do Senhor!
Os nossos passos se detêm às tuas portas, Jerusalém.”
 
Último momento desta peregrinação espiritual aos Lugares Santos, onde o povo de Deus tomou consciência de Deus Criador; os lugares onde Jesus nasceu, viveu, nos deu a conhecer o Seu e nosso Pai; os lugares onde nos deixou o Novo Mandamento do amor; os lugares onde nos deixou a Sua palavra e o Seu Corpo e Sangue como alimento; os lugares onde deu a Sua vida, em entrega total ao Pai. 
Concluímos a peregrinação com uma deslocação a Ain Karim, distante cerca de seis quilómetros de Jerusalém, para visitar a igreja de São João Baptista e a igreja que evoca o relato evangélico da visitação de Maria a sua prima Isabel. Aqui encontramos o canto de Maria escrito em várias línguas:

“A minha alma glorifica ao Senhor
e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações.
O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas: Santo é o seu nome.
A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem.
Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos.
Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes.
Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias.
Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia,
Como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre.” 
 
"… Deus meu Salvador … Santo é o Seu nome… "
Mais do que uma viagem, esta peregrinação constituiu, para mim e, poderia dizer para todos os restantes peregrinos, um autêntico retiro espiritual e, por isso apetece dizer:
“Eu vi a cidade santa a nova Jerusalém que descia do céu de junto de Deus, qual esposa adornada para seu Esposo…” 
E ainda:
Creio na Igreja, Una, Santa, Católica, Apostólica… … a nova Jerusalém!
Texto e imagens de José Angélico, a quem Sementes de Esperança agradece a partilha desta viagem inesquecível. Enriquecemos o nosso conhecimento com a descrição tão completa e as bonitas imagens que a acompanham. Sentimo-nos quase lá... participantes e peregrinos, unidos na mesma fé em Jesus Cristo. Bem-haja!

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