PELO ACTOR: PAULO MOURA LOPES
Aconteceu no passado sábado, na Capela de S. Martinho, um momento alto desta nossa caminhada quaresmal, as palavras do Padre António Vieira numa grande declamação do Paulo, a quem agradecemos a disponibilidade para estar connosco.
E, para os que não estiveram aqui deixamos um pequeno excerto do sermão do Pe. António, que continua actual e é dirigido a todos nós.
(...) E isto é o que aqui prega hoje, porque me não credes?
Mas vejo ainda que há quem repugne ou, quando menos, duvide e pergunte como pode ser e se pode dizer, com verdade, que nós os cristãos e católicos, não cremos a Deus? Para nós não há outra fé, nem outra autoridade, nem outro oráculo infalível, senão o da palavra divina. Logo, como não cremos a Deus? O mesmo Deus respondeu já a esta dúvida, e nos deu uma regra certa, por onde conheçamos sem engano, se o cremos a ele, ou não. Cuidamos que cremos a Deus, e enganamo-nos.
Mas qual é a regra? Qui crediti Deo, attendit mandatis: Sabeis quem crê a Deus? - diz o Espírito Santo: Quem faz o que Deus lhe manda. Se fazeis o que Deus manda, credes a Deus; se não fazeis o que ele manda, não o credes a ele: credes-vos a vós, credes ao vosso apetite, credes ao diabo, como creu Eva.
Por isso dizia David: Quia mandatis tuis credidi: Eu, Senhor, cri aos vossos mandamentos. Isto é só o que é crer a Deus. A nossa fé pára no Credo, não passa aos Mandamentos. Se Deus nos diz que é um, creio, se nos diz que são três pessoas, creio; se nos diz que é criador do céu e da terra, creio; se nos diz que se fez homem, que nos remiu, e que há-de vir a julgar vivos e mortos, creio. Mas se diz que não jureis, que não mateis, que não adultereis, que não furteis, não cremos.
Esta é a nossa fé, esta a vossa cristandade. Somos católicos do Credo, e hereges dos Mandamentos. Vede se se deve contentar Cristo com tal invenção de crer, e se tenho eu razão de pregar que cremos em Cristo, mas não cremos a Cristo: Non creditis mihi.
E para que esta verdade, que só está provada em comum, se veja com os olhos e se apalpe com as mãos, desçamos a exemplos particulares, e, ponhamo-los, para maior clareza nas matérias mais familiares e usuais, ainda da conveniência do interesse, do gosto.
( ...)
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