Em dia de manhã clara, em que o sol era uma promessa anunciada, 12 jovens em preparação para o crisma responderam ao apelo de se retirarem da sua zona de conforto para rumarem em direção a um dia de oração, reflexão e partilha. Atitudes que se pedem a um cristão em qualquer dia, mas que o tempo de quaresma nos sugere com mais vigor. É o tempo forte em que celebramos a misericórdia do Pai, sem limites.
Esperava-nos um espaço acolhedor na comunidade dos missionários da Consolata em Águas Santas, na Maia, para com o Pe Ramón Cazallas iniciarmos, por volta das 9h30, uma reflexão subordinada ao tema “deserto e desertos”.
Jesus retirou-se muitas vezes para o deserto, lugar árido e inóspito. Lugar do silêncio…
Tal como o deserto físico, também existe o deserto espiritual. Ninguém escapa de passar um deserto. Não importa por quanto tempo! Alguma vez alguém não sentiu já um vazio espiritual ou afetivo? Ou não se sentiu abandonado no meio da “bagunça” ou se sentiu não valorizado? São partes do deserto. Mas todo o deserto tem um oásis. Quando passamos por algum deserto Cristo é o nosso oásis.
Nos momentos de noite escura, momentos de deserto, procuremos, pois, o nosso oásis…Precisamos de dar alguns passos, desligando-nos, de vez em quando, de tudo o que nos prende.
Para tal são necessárias algumas condições como deixar de avaliar os outros para ficar livre para a misericórdia; fazer silêncio - o silêncio é muitas vezes a melhor palavra ou a melhor resposta, porque as palavras perderam o poder criador; a oração – estamos repletos de ideias de Deus, mas estamos vazios de Deus, porque o nosso coração está longe de Deus. Precisamos de orar… orar sempre, ainda que sintamos o silêncio de Deus, como sentiu Madre Teresa de Calcutá.
Depois da escuta, fomos convidados a fazer a experiência do silêncio. Experiência sempre mais ou menos difícil num grupo de jovens…mas experiência essencial na vida, mesmo na vida dos jovens. Pois o silêncio é o ambiente adequado para cada um se reencontrar a si mesmo, se encontrar com Deus, se reencontrar com os outros.
O silêncio é, por vezes, a tela de fundo para desenhar as mais doces, as mais duras e as mais certas palavras – as minhas e as tuas. Só fazendo silêncio te posso verdadeiramente escutar, só com o teu silêncio posso falar a verdade.
Seguiu-se um momento de recolhimento e adoração do Santíssimo Sacramento, exposto na Capela da comunidade dos missionários. Os jovens estiveram muito bem neste momento, quer em silêncio quer cantando e rezando, com o contributo inestimável do Filipe e a sua guitarra que tão bem executa, partilhando generosamente esse seu talento.
Depois deste momento regressámos à sala para uma pequena dinâmica e partilha.
Convidados a contemplar fotografias de desertos e a escolher a que mais gostavam ou aquela que maiores ou mais intensos sentimentos lhes despertavam e porquê, os nossos jovens revelaram a sua capacidade de observar, interpretar, falar…do que sentem. O mesmo é dizer exporem-se, revelarem-se, doarem um pouco de si.
Alimentado o espírito, chegou a hora de alimentar o corpo…
Por volta das 13h, e com um dia de sol convidativo a usar o espaço exterior, equipado com mesas, partilhámos o almoço. Os jovens, sempre com bom apetite, puderam saborear em ameno convívio…
Houve tempo para jogar, conversar, descontrair, conhecerem-se melhor!
Se da parte da manhã ouvimos falar de deserto, da parte da tarde, por volta das 15h30, iríamos ouvir falar de desertos.
Foi feita uma projeção com pessoas em situação limite, de sobrevivência, que nos levou a refletir sobre as condições extremas de carência absoluta de outros seres humanos, nomeadamente de crianças, coabitantes connosco neste mesmo planeta.
E se nos nossos desertos Cristo é o nosso oásis, nos desertos do outro Cristo é o nosso modelo. É a nossa condição de cristãos. A nossa atitude tem que ser de mudança e de conversão. Tem de ser uma atitude de empenho e de entusiasmo pela missão da justiça, da paz e da misericórdia, para que onde existem desertos de humanidade, surjam oásis de dignidade.
Mais uma vez, os jovens foram convidados a observar fotografias que expressavam “desertos humanos” e a falarem daquelas que mais os tocavam, os nossos jovens foram eloquentes sem receio de dizerem o que pensavam e sentiam.
É também nestes momentos de reflexão que revelam quanto Deus os habita!
Chegados ao final da tarde, seguiu-se o momento da reconciliação. Às 19h foi a celebração da eucaristia onde os jovens se juntaram ao coro de vozes e o Filipe aos restantes instrumentistas.
Alguns pais também participaram na eucaristia. Fica aqui uma nota de agradecimento a todos os pais que, mais uma vez, generosa e amavelmente ajudaram a transportar os jovens. Também uma nota de agradecimento ao Rui Ferreira, do Seminário da Boa Nova, pelo acompanhamento do grupo.
Terminada a eucaristia regressámos ao nosso canto, convencidos que o silêncio de Deus faz em nós muito mais que todas as nossas palavras.
Que nesta quaresma aprendamos a não deixar Deus, que é fonte de água viva, para cavar cisternas.
Retiro/Quaresma 2016/03/12
Os catequistas do 11º - Grupo de Jovens Crismandos
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