Hoje é Dia de Natal.
É Dia de Jesus.
O Natal é um imenso caudal
De luz
E de alegria:
Hemorragia
De Jesus.
Há quem pense amansá-lo e enlatá-lo,
Domesticá-lo,
E depois tomá-lo em pequenos comprimidos,
Mais ou menos à razão de um por dia.
Mas o Natal não se pode comprá-lo
Ou aviá-lo por receita.
Nem cumprimentá-lo,
Quer com a mão esquerda quer com a direita.
O Natal não tem regra ou etiqueta.
Não se pode semeá-lo
Na jeira ali ao lado.
Não se pode trocá-lo
Por qualquer bugiganga à venda no mercado.
Este vendaval,
Que se chama Natal,
Só podemos deixá-lo entrar por nós adentro aos borbotões,
Até que rebentem os portões,
E caiam um a um todos os botões.
Também o mofo e o verdete que há nos corações
Serão levados na torrente,
E também tudo o que apenas é corrente,
Banal ou indiferente.
Só ficaremos mesmo eu e tu, menino,
Só mesmo nós os dois,
Lado-a-lado ou frente-a-frente.
D. António Couto
https://mesadepalavras.wordpress.com/2017/12/24/natal-2017/
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