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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

"EUTANÁSIA" é uma grande perda para a humanidade, um caminho perigoso e de desumanização"

Em entrevista à Renascença, D. António Augusto Azevedo fala numa questão que "fratura a sociedade" e que pode fazer prosperar "populismos e radicalismos vários". O que é preciso, defende o bispo transmontano, é "ter o melhor serviço de saúde, melhores serviços com cuidados paliativos, melhores espaços de acolhimento".

O Parlamento debate a 20 de fevereiro as quatro propostas de lei sobre a eutanásia. Como vê esta pressa em legislar sobre uma matéria que diz respeito a toda a sociedade?

A eutanásia é um tema muito importante e, por isso mesmo, deveria merecer uma reflexão mais aprofundada de consciencialização da sociedade, para, depois, se tomar uma decisão mais informada, mais fundamentada. Desta forma, parece um pouco apressada. Não é a melhor forma. Terá legitimidade democrática, com certeza. Não está em questão isso, mas eu gostaria de uma democracia em que a sociedade interviesse mais.

Não houve debate, não houve esclarecimento. Parece que a sociedade foi colocada à margem de um tema muito importante…

Gostaria que neste processo houvesse formas de maior participação. Eu acredito numa democracia mais participada, em que não haja medo de ouvir a opinião dos cidadãos e, portanto, eu gostaria que houvesse mais espaço para esse debate e o debate é sempre mais esclarecedor. O debate ajuda a perceber aquilo que está em questão. Sobretudo, o debate ajudaria a esclarecer as consequências de um passo destes. E o debate teria muito a prender com a experiência de outros países. Esta pressa não ajuda.

Que perigos podem advir da despenalização da eutanásia? Que consequências para a sociedade portuguesa?

Quando, com uma medida destas, se está a pôr em causa um princípio tão básico da civilização, como é o princípio do respeito pela vida, de facto, está-se a mexer nos fundamentos do consenso ético. Esta pressa é sempre um revés para a ética, um revés também para a medicina e para a ciência em geral e um revés, também, para uma sociedade que se queria, que se deseja sempre mais humana. É um facto que estamos diante de um problema, diante de uma dificuldade, uma sociedade que diante da morte não encontra sentido, que diante do sofrimento não encontra respostas. E isso acontece, quando se esquece Deus. E procuram-se soluções que ajudam a por de parte essas questões, a não enfrentar essas questões. Não é a melhor solução. Esta é uma medida que facilita eufemisticamente a morte, a morte sem dor, enfim, mas, do ponto de vista humano, de densidade humana, é uma grande perda para a humanidade, no fundo. É esse lamento que eu faço. É uma solução que algumas sociedades ditas avançadas estão a encontrar, mas é uma solução errada face a um problema real.

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