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sexta-feira, 26 de maio de 2017

REENCONTRAR O GOSTO DA BUSCA E DA INTERROGAÇÃO

«Há uma tendência muito perigosa de aceitar tudo o que se diz, tudo o que se lê, de aceitar sem colocar em discussão. E, ao contrário, só quem está pronto a pôr em discussão, a pensar autonomamente, encontrará a verdade. Para conhecer as correntes do rio, quem quer a verdade tem de entrar na água.»

Leio estas palavras de um sábio indiano, Nisargadatta Maharaj, falecido em 1982. Todos sabemos que não raramente a informação é fabricada para uso de finalidades nem sempre confessáveis; muitas vezes descobrimos que os dados apresentados pelos jornais são aproximativos e, por vezes, claramente falsificados.

Todavia, deixamo-nos ir lentamente à deriva, e alguns meios particularmente poderosos, como a televisão, envolvem as nossas mentes numa rede de lugares comuns, de convicções, de decisões que são acriticamente absorvidas na nossa existência. Eis, então, o apelo daquele sábio para exercitar vigorosamente a razão e o juízo.

Mas a mim agrada-me sobretudo a imagem do imergir na verdade e na realidade, com uma busca pessoal, fatigante, como quando se é obrigado a ir contra as correntes, nadando em sentido oposto.

Já um grande escritor do século XX, Robert Musil, em "O homem sem qualidades", declarava que a verdade não é uma pedra preciosa a guardar num cofre ou no bolso, mas antes um mar infindável ao qual uma pessoa se deve lançar. É preciso, então, reencontrar o gosto da busca e da interrogação.

A própria fé não é uma adesão de olhos fechados e sem pensamento; ainda que a escolha última seja risco e confiança, ela supõe uma coerência interna e tem uma substancial premissa fundada na razão. Crer e compreender devem avançar juntos.


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