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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A 30 DIAS DAS MINHA PARTIDA PARA PORTUGAL

Por Rafaela Gonçalves, na Terça-feira, 
16 de Novembro de 2010 às 20:10

Um dia destes, tomava banho e pensava: “Devo estar doida!”, claro que cheguei à conclusão, que SOU doida… mas feliz!! Bem, este pensamento não vem por acaso... explicando: a época das chuvas começou, e o pensamento de qualquer pessoa seria: água não faltará mais. Engano puro, pois não há água, ninguém tem água. A explicação, lógica, com as chuvas o lixo das montanhas entra na canalização e entope os canos. Logo não há água. Na noite anterior havia tomado banho de gato, porque não tínhamos quase água nenhuma, naquele dia tomei um banhozito melhor… mas… mas, por Amor da Santa, tomei banho com pouquíssima água, dentro de uma bacia, para poder usar depois a água do meu mini banho na sanita. Pensava eu, enquanto tomava um duchezito, quando alguma vez me imaginei passar por isto, eu?? Logo eu? Por Amor da Santa, tomar banho de “caneco”, com poupança poupada, aproveitando a água do meu banho para a casa de banho… Santa Mãe.
Acabei o meu banho, e ri-me, porque sentia-me fresca e lavada. Cheirosa. E pensava no quanto seria doida por me sentir bem assim, lavada, mas com esforço (pois é preciso trazer agua para dentro de casa e calcular se dá para tomarmos banho). No “serão comunitário” rimo-nos… e partilhamos a nossa experiência de pobreza… e rimo-nos… era a ultima noite de duas jovens, que chegaram aquando eu, para fazer um tese de mestrado aqui na Missão das Neves. Mais uma partida, não duas (pois as postulantes regressaram a Angola e também… bem… mais três despedidas marcantes), e mais uma vez relembro o dia que cheguei. O medo e fascínio que senti… Quanto à minha partida, falta um mês. Começam a falar na minha partida, até parece que estão com pressa de me mandar embora! Com jeito, falam na minha presença e de como estão habituados à mesma… é engraçado. Todos os santos dias, novas aprendizagens, novas experiências, novos conhecimentos, novos carinhos, as mesmas pessoas, a mesma rotina… nova consciência, novo espírito….
Na minha rotina já estabelecida, vou até à escola Primária Mãe Clara, às 7h00, para receber as crianças e, elas uma a uma, cumprimentam-me, dizendo “Bom dia, Senhôrra Rafaêlha” e agarram a minha mão com um sorriso. Depois faço a actividade de uma hora e meia, e costumo chegar aquando o intervalo deles, e um e outro, depois é contagioso, vem e olha para mim e agarrasse à minha cintura e olham para mim… nada dizem, nada pedem… bem… Por Amor da Santa… Estão amansados, meigos, “educadinhos” dentro da realidade deles…. Como é de calcular, o fim de semana é triste… bem no Sábado acompanhei, devido às minhas capacidades ”condutoras”, o grupo Novo Horizonte (grupo de senhoras que viviam ou vivem “amigadas” e se preparam para o casamento) a um retiro na Roça Monte Forte. Santa Mãe. Houve almoço partilhado, e eu, como fui apanhada de surpresa no final da missa das oito horas, como tal, não tinha nada. Conduzi (pelo meio dos montes, lama e pedras!), participei no retiro (apesar de não estar para casar, nem estar “amigada”) e comi… por amor da Santa… as dez senhoras, todas elas me deram um prato da sua comida… tanta comida e boa! Bem, santomense é pobre, mas bom cozinheiro. Cozinham bem… e, eu como… e depois … ora estou, o que aqui chamam: massa bruta!! Vim a tempo de fazer catequese, e tive… ora bem… tantas crianças… mas tantas… eles têm imensos grupos de catequese… mas todos os sábados novas crianças aparecem… Domingo… Santa Mãe… é horrível… Eucaristia (que me fascina… tantas pessoas, crianças, tanta música, tanto respeito e silêncio), catequese com jovens, almoço… e este domingo de tarde… praia! Cada vez está melhor… como dizia às minhas companheiras de praia: “Vou sentir saudades disto, só disto!!”
  
A noite ao fim de semana é engraçada, na rua principal, há, não sei como chamar, mas estabelecimentos tipo bar/esplanada muito rudimentares, pessoas na rua a conversarem, musica das casas… mas às 22h… tudo recolhe… é engraçado o movimento! A semana recomeça… e os meus meninos-diabretes… também... são tão amorosos… e, “destrambelhados” e “trambolhos”… mas catitos! Sempre me achei uma pessoa pouco exigente e sem manias (comparativamente com os outros, nunca me achei perfeita, tenho os meus vícios e manias!), mas só a experiência em Lembá, me fez ver o tempo que perdi com ninharias… por Amor da Santa! Não estou em “Africa-Africa”, a Ilha de São Tomé parece uma aldeia pobre, muito pobre, com falhas de energia eléctrica e água… gente pobre e humilde sem conhecimento do que é a vida fora da ilha que tem um atraso de 50 anos. Não me falta nada, mas esta gente tem tão pouco, mas tão pouco… só para imaginares, há crianças que trazem o caderno escolar (um bloco de publicidade!) dentro de um saco plástico.
Não trazem lanche, é a Congregação que dá todos os dias a estas crianças um pão e leite, é engraçadérrimo, uma caneca colorida com leite e, eles molharem o pão no leite, todos sentados… bem… nota-se que é o pequeno almoço, e porventura o almoço… Santa mãe, tanta poupança poupada, tanta humildade, tanto despojamento, falta agora saber se retomarei todos esses vícios e manias, assim que regresse à civilização. A cerca de 30 dias da minha partida… do meu regresso… espero ser capaz de partir deixando Bom Sucesso (onde resido) em Neves. O distrito de Lembá, lembrar-me-à sempre um oásis, onde a água jorra (não canalizada!) matando a sede aos sequiosos da paixão.
 
A minha vivência em São Tomé, é única e radical. Marcante e pessoal. A minha partida para São Tomé foi o meu regresso a mim, ao meu “eu”… a minha partida de São Tomé… o meu regresso... a um novo “eu” sem deixar de ser EU (em Cristo)!

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