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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

MEDITAÇÃO SOBRE A CRISE DA IGREJA

Por Pe. Jorge Teixeira da Cunha

As notícias que circulam sobre assuntos da Igreja causam perplexidade em muitas pessoas. Os jogos de poder da Cúria Romana, a dimensão dos crimes de abuso por parte de clérigos de todos os graus, a oposição declarada ao Papa, o afrontamento de grupos de pressão com violência explícita são um sinal dos tempos de comunicação massiva que vivemos. Muitos se perguntam pelo sentido de tais notícias ou de tais factos. Será que vivemos um novo Inverno da Igreja? É necessário olhar com atenção para não perder o pé.

A Igreja sempre viveu em crise. Reparemos que “crise” quer dizer avaliação e ocasião de melhoramento, mediante um aprofundar da coincidência da vida eclesial com o Evangelho de Jesus. No nosso tempo, o que se está a passar é uma superação de um certo modo de a Igreja se entender a si mesma. É um processo que vem de longe e que teve o seu momento principal no Concílio Vaticano II. Trata-se de pensar de outro modo a Igreja no mundo, não como uma instituição visível e poderosa, mas como uma presença discreta, à imagem do fermento na massa. A isso, o Papa Francisco chama superação do clericalismo. Converter-se, por este caminho estreito, é ser melhor Igreja.

Mas alguém perguntará se a evidência dos crimes de abuso por parte de clérigos não é um sinal terrível de infidelidade. Claro que é, e claro que os crimes têm de passar pelo crivo da justiça. Mas ainda aqui, reparemos que em tudo isto se vislumbra uma evolução moral. Até há três décadas atrás, não havia sensibilidade nem da moral da Igreja nem da moral cívica ao abuso de crianças e jovens. Nem lei penal havia para esse crime. Agora há sensibilidade e há penas. Isso é um avanço. A Igreja está a pagar por este escândalo um preço maior do que a sociedade. Mas não deve fugir ao castigo por mais doloroso que seja. Esperemos que possa fazer dessa dor uma ocasião de redenção.

Sobre este último ponto, há mais uma lição a aprender. Do ponto de vista da evolução moral, a Igreja professa que apenas a reconciliação, a penitência e o perdão podem superar o mal pessoal e social. Ora, este aspecto parece esquecido, se olhamos o modo justiceiro como o assunto dos abusos está ser tratado. A Igreja não pode proceder segundo o mecanismo expiatório, ou seja, castigar apenas aqueles que são apanhados pela lei civil e, depois, lavar as mãos como Pilatos. A cumplicidade moral em relação aos abusos foi e é bastante generalizada, desde a mais alta hierarquia até aos graus mais baixos. Por isso, ocorre castigar quem prevaricou, mas também assumir a culpa por todos os silêncios, todas as conivências e mesmo todas as chantagens sofridas e praticadas. 

A Igreja já superou ocasiões tão dolorosas como a que está a viver nos nossos dias. O que importa é que saia das dores mais confiada no poder da fé e não já no poder da força, mais humilde para poder superar o clericalismo em todas as suas formas, mesmo o clericalismo laical.

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