NOTÍCIAS DE S.TOMÉ III

Há 39 dias em São Tomé

Por Rafaela Gonçalves, segunda-feira, 1 de Novembro de 2010 às 20:53

Semana calma, sem grandes aventuras… um fim-de-semana, com… com… praia? Não, pois vocês rogaram-me uma praga e não tive carro para ir à praia, mas assisti a um jogo de futebol feminino, patrocinado com equipamentos do FCP… ah! Grandes mulheres. Até os juízes de linha tinha bandeiras do Porto, carago! Algo interessante, é que aqui é só Benfiquistas… ah! Não imaginas o que passo a “conbencer que o Porto é campião!”

Mas como não fui á praia no Domingo, fui… na segunda à tarde… que praia… Minha Santa Mãe! Nunca pensei que estas coisas existissem. Linda!

A semana é calma, sempre com as minhas crianças-diabretes. Bem, progressos existem mas lentooooos! Também a culpa não é deles… mas da Orientadora!

É engraçado como já “convivo” com eles…

 

Já temos água canalizada na nossa casa! A energia eléctrica… é que pronto… é intermitente!

Já não existem muitas novidades… é uma vidita relativamente chaataa! Muito chata! Calor, sol, o céu estrelado mas super, com milhares e milhões de estrelas, e pequenas poeiras brilhantes… praia fantástica, pessoas calorosas, queridas, meigas e sorridentes. Condução todo o terreno… eucaristia… tempo para mim… gente que gosta de mim (sim! Há pessoas inocentes aqui e que gostam de mim!).

Não imaginas o que tenho aprendido. Vim sem nada, sem saber cantar, cozinhar, tocar, dançar, costurar… e já cantei, cozinhei, toquei, dancei e costurei… e continuo sem saber cantar, cozinhar, tocar, dançar, costura!

Mas aprendi algo muito mais. Muito mais! Aprendi a viver em Jesus Cristo. É engraçado. Eu sabia. Mas não sabia que achava que sabia. Esta gente simples ensinou-me aquilo que eu achava conhecer: ultrapassar as minhas perdas. Terminei o luto quando levantei voo de Portugal, pois deixei de usar roupa negra (por razões obvias em África é aconselhado a usar roupas claras!) e eu estava convencida que estava pronta para deixar partir “as minha perdas”… ao fim de 39 dias vejo o quanto estava enganada.

Reconstruí-me, e agora sorrio e rio com vontade e verdade, acredito em mim. E, sei, mas sei de verdade que não estou só. Amei, fui amada, e sempre amarei. Enganei sem maldade, fui enganada, e na vida não estou livre de ser enganada. Sonhei, desiludi-me, mas volto a ter projectos. Perdi, faço a minha despedida, e sigo em frente livre.

 

Saí de Portugal com 60kg, neste momento nem me peso pois não há balanças aqui (pensas o quê?), estou mais… melhor constituída, mas sinto-me muito leve, sinto-me livre. Aprendi que para curar a dor da minha perda… tinha de aceitá-la e não escondê-la como havia feito até. A dor da perda e da desilusão não desapareceu nem desaparecerá… mas torna-se cada vez mais suportável, cada vez mais acompanhada. Foram muito anos a esconder perdas, sofrimentos e desilusões… que começam a cicatrizar. Sou eu, a Carla Rafaela, a Libelinha, a Rafaela que cresceu e aprende a ser.

.

Aquilo que estou a viver… é meu… por mais que tente passar fotografias e palavras, nunca conseguirei demonstrar o que estou a viver. É algo bem especial. É algo radical. É algo libertador. É um… por amor da Santa… é a minha transformação de lagarta em borboleta!

Beijito.