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quinta-feira, 18 de outubro de 2018

SÍNODO DOS BISPOS 2018

Apontamentos do Pe. João Pedro Bizarro
Num espirito muito jovial e informal (o Papa chegou a assinar o gesso do braço de um dos participantes), jovens de todo o mundo, mostraram aos Padres sinodais as suas preocupações, que caminhos fazem os jovens afastarem-se de Deus (e da Igreja) e quais os caminhos que Dele os aproxima, e deram alguns exemplos da sua generosidade e autenticidade de vida, como foi o testemunho da Giulia, Voluntária para a Paz, que vive num campo de refugiados sírios no Líbano, e que afirmou: “A minha fé é o Amor, o Amor de confronto, o Amor de conforto”.

Aquilo que podia parecer um concerto, ou um encontro de jovens com o Papa, ao jeito de uma atividade intercalar do sínodo, não foi mais do que uma sessão extraordinária do mesmo para a apresentação de questões importantes aos Padres Sinodais – uma delas feita por uma jovem paquistanesa que perguntou o que está a Igreja a fazer para ajudar as Igrejas perseguidas como a dela.

Os jovens querem e devem ser ouvidos e tidos em conta, de modo sério. Quando o não fazemos estamos a afastá-los da mensagem de Cristo e da Igreja. Esta mensagem não pode ser dourada, suavizada, deturpada. Os jovens não têm medo da exigência, pelo contrário, aceitam-na como um desafio que abre horizontes. Testemunhou o Daniel, um jovem com um percurso de vida que o conduziu à prisão e que reconstruiu a sua vida: “A proposta da fé é bela porque é exigente, interpela a minha liberdade e não me apresenta saídas fáceis para a felicidade”. A ausência de horizontes de esperança, da nossa juventude, não está na facilidade com que tudo lhes é apresentado? Na facilidade imediata de ter tudo disponível com um click?

Mas às questões o Papa não as respondeu, pois diz ele, isso é competência do Sínodo, pelo que não pode anular o mesmo. Estas nascerão do contributo e reflexão de todos os participantes. Mas abriu horizontes! Convidou os jovens a fazerem-se à estrada. A não estarem sentados no sofá, a não entrarem na reforma com 24 anos. “Sede jovens a caminho, que olham o horizonte, não um espelho. Sempre olhando para frente, a caminho, e não sentados no sofá”. Vêm-me à mente tantos jovens que vivem como reformados, ligados aos telemóveis ou aos computadores.

Jovens que já não se fazem à estrada na procura de si e dos outros. Encontrar-se não na imagem refletida de um espelho mas encontrar-se “no fazer, na procura do bem, da verdade, da beleza. Aí encontrar-me-ei”. Um segundo aspeto é a coerência. Fazer o caminho com coerência de vida. Alerta com duras palavras para não cairmos na tentação do poder que escraviza. Não podemos ser uma Igreja que prega as bem-aventuranças e depois cai no clericalismo mais principesco e escandaloso. Coerência de vida para que o poder seja sinal de serviço e não um meio para rebaixar os outros, para os escravizar a vontades pessoais.

Perdoem-me os leitores, mas ao escutar estas palavras, de imediato veio-me à mente a questão dos trajes eclesiásticos que agora florescem. Na nossa Diocese, e por todo o país está a voltar a moda do traje eclesiástico e o gosto pelas “rendas”. Recordo uma conversa com um sacerdote, que hoje está na casa dos 80 anos, que me dizia que após o Concílio do Vaticano II os padres tinham deixado de usar traje eclesiástico para estarem mais perto daqueles que serviam, para não serem “diferentes” (leia-se aqui superiores). E hoje, o regresso deste modo de vestir é um sinal de serviço (coerência de vida)? Ou um sinal de distanciamento, o tal clericalismo falado pelo Papa? Faço votos para que seja verdadeiro serviço, pois não é a roupa que enforma o coração, mas pode ser um sinal do que nos vai no coração.

Pois “se se perde o verdadeiro sentido do poder (…), se se perde aquilo que Jesus disse, que o poder é serviço: o verdadeiro poder é servir. De outro modo é egoísmo, é rebaixar o outro, não deixá-lo crescer, é dominar, faze escravos, não gente madura. O poder serve para fazer crescer as pessoas, para fazermo-nos servidores das pessoas. É este o princípio: seja para a política, seja para a coerência das vossas questões”. Tudo aquilo que somos, somo-lo porque recebemos dos nossos pais e avós.

É importante o contacto com aqueles que antes de nós já trilharam este caminho, com coerência, como são os nossos avós, dizia o Papa: “Tudo aquilo que a árvore tem de florido, vem daquilo que é subterrado”. De facto a nossa seiva vem dos mais velhos – o Papa pedia para os jovens falarem com os velhos, com os avós – e sem eles seremos árvores sozinhas, e estas não produzem fruto. Porque esta segunda crónica começa a ficar muito longa concluo com uma última advertência do Papa aos jovens: “Não sois mercadoria de leilão! Por favor, não vos deixeis comprar, não vos deixeis seduzir, não vos deixeis escravizar pela colonialização ideológica que nos mete ideias na cabeça e no final tornamo-nos escravos, dependentes, falidos na vida”.

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