«Se andássemos no mundo com o descuido da criança, que adormece no meio da multidão, o mundo não conseguiria perturbar o nosso coração mais do que quanto pode influenciar a respiração ampla e leve da criança que dorme.»
Esta imagem criada pelo escritor francês Christian Bobin apresenta-se não raramente diante de quem, no meio da multidão no metropolitano ou numa praça, se detém a observar os rostos.
As crianças adormecidas ao peito da mãe, enquanto que no exterior há barulho, gritaria, agitação, não fazem inveja só a quem precisa para adormecer, como eu, de muita espera e situações propícias.
Há uma inveja mais santa e profunda que já o salmista tinha representado com a mesma cena: «Estou tranquilo e sereno como criança saciada aos braços da sua mãe, como uma criança saciada está a minha alma» (131, 2).
Conseguir conservar a paz no turbilhão do mundo, no esgotamento causado pelo frenesim, na tensão e na tentação incessante do fazer, possuir e conquistar, é um dom divino.
É a necessidade de redescobrir a quietude do silêncio no meio da excessiva palraria, a quietude do repouso para além das paragens cansativas dos fins de semana, prolongados como este, a capacidade de meditar, contemplar e rezar juntamente com o agir, o calcular, o intervir.
A «respiração ampla e leve» da criança é a da alma que sabe respirar em sintonia com o sopro de Deus, isto é, com o seu Espírito. É o bater da consciência em harmonia com o sussurro do coração de Deus.
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