Ainda é possível ser “pai” no Ocidente, após cerca de 50 anos gastos a “matar o pai” (como nos pedia com insistência a psicanálise freudiana), ou a definir a paternidade como supérflua (segundo a habitual cultura radical chique da autonomia a todo o custo), ou a eliminar a sua presença (como nas leis sobre o aborto), ou a torná-la facultativa (na legislação sobre o matrimónio e educação dos filhos), ou a considerá-la uma pura construção cultural-social (segundo as teorias do género)? Com efeito, este ambiente tão hostil criou na nossa sociedade uma espécie de obscuridade do pai, da qual é inevitável pagar as consequências.
A primeira é que não só não há mais “pais”, como também não há adultos, porque a paternidade significa o pleno cumprimento do caminho do adulto.
Se a vida, efetivamente, é dom recebido que tende pela sua natureza a tornar-se bem dado, uma pessoa torna-se adulta quando opta explicitamente por passar da fase passiva da receção do dom à ativa do dom de si. Adulto é, portanto, aquele que gera, que toma cuidado pelo outro, que dele se sente responsável e guardião, que dele carrega peso e fragilidade, inclusive no mal.
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Se desaparece o pai, desaparece também toda a responsabilidade, e construímos um mundo de crianças perenemente litigantes, ou de (pré)adolescentes irascíveis, adultos só na conservatória do registo civil. Um mundo onde mais ninguém se encarrega de ninguém.
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Por isso, o pai ainda é necessário hoje, como sempre. Mas é preciso que haja na Igreja caminhos formativos para a vocação paterna. A mais bela que existe!
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