Tal como prometeu, a nossa jovem catequista Rafaela, em missão em Neves, S. Tomé e Príncipe, tem-nos feito o "diário" desta sua experiência. Aqui ficam algumas das suas palavras e imagens numa partilha bonita e emocionante. Um "abanão" para as nossas consciências e, também um bom motivo para individualmente ou em catequese, reflectirmos sobre este mundo, que tantas vezes não queremos ver (conhecer) porque o "grito" desses nossos irmãos longínquos é "abafado", pelas nossas prioridades e dificuldades...
"Um mundo à parte… é o que São Tomé é! …não sei como é que um mundo com tantos potenciais, recursos e beleza… e há uma pobreza extrema, falta de higiene… mas o sorriso é característico. Foi um choque térmico, mas acima de tudo um choque cultural.
Além do factor pobreza, o mais radical foram as diferenças: sociais, fuso horário, culturais e clima… um calor insuportável...
O estilo “ a meio da manhã é a eucarística”, este meio da manhã são 8h00, o dia termina às 17h… às 22h já tudo dorme!
A minha missão – aulas - inicia-se às 7h da manhã, 30 e muitas crianças: sala minúscula, imenso calor, gritos, choro…
“Amiga”, “Irmã”, “Professora”, “Branca” são expressões que usam…
Magoa ver tanta miséria. É uma missão dura, radical, determinada e longínqua! Uma semana… e parece uma eternidade! Tanto para fazer e nada para usar, para além de crianças a serem moldadas, na esperança que Deus os toque e os ouvidos deles suportem o meu canto.
O bonito, foi após as Actividades um miúdo foi ao monte de lixo da escola buscar um flor de papel para me dar e logo a seguir o outro, com carinho coloquei a flor no bolso para todos verem e eles sorriram. No segundo dia de Actividades, uma menina encosta-se às minhas pernas e agarra-me a mão e meia tímida deu-me um rebuçado, com um sorriso na cara. Gosto da experiência missionária… gosto do voluntariado. Mas é uma experiência muito dura e solitária. … Estranho… os nomes das pessoas, das frutas…
As minhas novas amigas:
Petiza, Patrícia, Beth, Kátia.
Mas o mar... as praias... um paraíso!
Um dia inteiro a conduzir um camião sem direcção assistida, em montes e "vales marítimos" com reacções estranhíssimas à "Senhora Branca Condutora"!
É tudo muito tumultuoso ainda! Cheguei aqui: pobre em espírito, indecisa, infeliz, irrequieta, esperançada, falsa alegre, crente, crédula, frágil, esperta, introvertida, não cantora…
…Confio na minha sapiência e no caminho que escolho. Deus tem iluminado as pontes pelas quais atravesso. Esta será mais uma que, pela Graça, o meu bom Deus estará comigo. Beijito.
Chauê."
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