"Ao fim de 18 dias em São Tomé já me sinto “leve-leve”… um pouco mais calma… é impressionante o contágio da boa disposição e do relaxamento… também com o calor que faz… por Amor da Santa… se stressasse desaparecia em água! Aprendo dia a dia a ser “Eu”, já me tinha esquecido que respiro todos os dias…
É interessante pensar que na primeira semana, eu tinha uma rotina diferente da de hoje – mais higiénica aos olhos europeus – pois antes de almoçar e do jantar tomava banho… mas agora, lavo as mãos e a cara antes de almoçar e banho à noite. Por dois motivos: não há água (por dois motivos: seca e sem energia eléctrica a água não saí dos tanques) e porque sou eu a lavar a minha roupa… : besuntava-me de repelente de insectos e protector solar… bebia água milimetricamente para não ficar desidratada, comia a horas para não perder energia… que louca! Calçava meias e lavava constantemente os pés! Ui, ainda no domingo o meu chinelo estragou-se e, eu armada em super São Tomense vim descalça para casa… queimei um pé! Eles andam descalços… porque não havia de conseguir…
Também aprendo a poupar, tudo aqui é reutilizado… é engraçado ver aqueles olhares de “tens tudo, eu perante ti não me sinto insignificante pois tenho mais que tu…”, os São Tomenses não sentem falta das “comodidades europeias”, porque não as conhecem e porque não sentem que tal traga felicidade, nem se preocupam com isso.
Para imaginares a simplicidade e gratuidade, na segunda-feira, andei a “trabalhar” no duro a conduzir a minha Dyna sem direcção assistida e carregada de terra (já sei manusear a báscula! Upi!), e umas crianças acharam piada à “branca”, tentei afastá-las e nada… derrotada fui conversar com elas e “pedi-lhes” que se fossem embora… e foram… passados minutos aí estão os diabretes… sai “mosquete”, vou eu disparada e Ups! Trazem dois copos de sumo… para mim… Por Amor da Santa!! Levei eu um mosquete daqueles que sentimos durante horas. Depois desapareceram… é um sinal de carinho, gratuidade, de sorriso… que me faz sentir cada vez mais pequena e ignorante face a estes gestos.
E tantos outros… mas também muitos gritos e "mosquetes voaram" para os diabretes da Escola Primária… sou missionária voluntária não Santa. E, crianças?! Haveria prova maior de missão para mim? Na catequese… essa é outra história: a estrutura… hum… ter mais de 14 anos e não ser baptizado é comum… tenho dois grupos…. 2º e 3º anos. Ah! Os cânticos, bem… ah! Que maravilha!
Melhor: a equipa de Acolhimento (pessoas que organizam a logística e entrada na eucaristia) não me quis deixar entrar na Eucaristia, porque eu ia de calções (até ao joelho, largos e decentes demais), pois mulher não usa calções. Aqui jogou a vantagem de ser “branca”!
É nestas alturas que queria ter asas e voar… tenho pernas e mãos para ajudar… Aqui continuo… ao fim de três semanas, sinto-me cada vez mais leve de espírito e pesada no corpo (come-se bem demais aqui!)! Faltam 9 semanas… aproveita a minha ausência! Pois a minha presença é sentida!!
Texto e imagens: Rafaela Gonçalves
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