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segunda-feira, 23 de março de 2020

CATEQUESES QUARESMAIS 2020

Devido ao COVID-19, infelizmente não foi possível terminar este Ciclo. Mas é com gratidão que publicamos hoje o belo texto que nos foi enviado referente à Catequese do dia 10 de março, centrado na Samaritana, e nos liga já aos domingos seguintes... 
 " A ESPIRITUALIDADE QUARESMAL E PASCAL "
2.ª– 10.03 – Centro Paroquial de Vilar do Paraíso 
Nesta segunda catequese quaresmal a comunidade pôde contar, mais uma vez, com a disponibilidade e profundos conhecimentos do Sr. Pe. Luís de Castro, da SMBN, cuja vasta experiência e currículo são dignos de menção e ali foram dados a conhecer.
O Sr. Pe. Luís de Castro começou por dizer-nos que este encontro seria antes de tudo um tempo de oração, ao estilo Lectio Divina, centrado no texto bíblico do próximo domingo – o encontro de Jesus com a samaritana -, sendo já uma preparação para a liturgia do próximo domingo. E a reflexão, partindo do texto, centra-se em duas perguntas que temos de fazer, tal como Jesus fez. Consiste a primeira em saber o que está escrito no texto e a segunda em saber o que é que eu leio nesse texto ou, como é que o texto lê a minha pessoa. Cada uma dessas perguntas é para saber o que o texto me diz.
Deus quer falar a cada um de nós. Deus fala a todos. O que é que o texto me diz?
Antes de ler o texto o Pe. Luís de Castro fez uma pequena introdução à Quaresma.
 A liturgia do Ano A é principalmente uma liturgia batismal. É para preparar os catecúmenos.
O primeiro e segundo domingos são uma espécie de GPS. O primeiro diz qual o meu ponto de partida com o evangelho das tentações. Do ponto de vista bíblico, tentação significa prova. E é no momento de prova que sabemos o que temos no coração. É nesse momento que se manifesta. As tentações têm a ver com o mais profundo da nossa vida. São três os grandes âmbitos da nossa vida: ter, aparecer e poder.
Este é o ponto de partida. É a nossa realidade. A igreja convida-nos a olhar para nós tal qual somos. Se Jesus desce até ao nosso pecado, ele abraça toda a nossa vida.
Somos convidados, na quaresma, a partir exatamente do que somos, enquanto pessoas reais. E são essas pessoas reais que Deus ama e aceita incondicionalmente (há, contudo, uma diferença grande entre aceitar e aprovar. Aprovar tem a ver com o sentido ético ou moral das ações. Jesus não veio ensinar-nos uma moral. Veio ensinar-nos onde está o melhor bem. Um cristão não escolhe entre o bem e o mal, mas entre o bem e o bem maior).
 O primeiro domingo dá-nos, então, esse ponto de partida.
Do ponto de vista cristão só há conversão quando Deus nos toca com o seu amor.
O segundo domingo dá-nos o ponto de chegada, dizendo-nos para onde vamos ou aonde nos leva o caminho. A esperança cristã não é dizer que tudo vai correr bem - isso é otimismo.
Os três domingos a seguir são as etapas. É o encontro de Jesus com cada um de nós.
Depois da introdução, seguiu-se a leitura do texto bíblico” Jesus e a samaritana” (Jo 4,5-42)
A reflexão partiu da colocação dos personagens no cenário, para a melhor compreensão deste texto.
Começa o texto por dizer (numa tradução rigorosa) que 4Era preciso passar pela Samaria. 5Chegou então a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto da região que Jacob tinha dado a seu filho José. 6Ali estava o poço de Jacob. Cansado, Jesus sentava-se junto do poço. Era por volta da hora sexta. 7Veio uma mulher da Samaria para tirar água.
Ora, pese embora a Samaria ficar, geograficamente, entre a Judeia e a Galileia, o caminho normal não era pela Samaria, por causa da morfologia do terreno, muito acidentado, mas era feito por um desvio, passando junto ao rio Jordão. Logo, não se tratava de uma necessidade geográfica. Era preciso, porque esse era o Plano de Deus.
Jesus sentava-se ( a maioria das traduções não tem o verbo traduzido neste tempo verbal, porque na nossa língua o tempo do verbo tem a função de dizer quando se passou a ação, mas na língua hebraica e aramaica o tempo do verbo tem por função dizer como se passou a ação. O tempo em que a ação decorre é indicado por um advérbio no início da frase, como, por exemplo, ontem para indicar o tempo passado ou amanhã o tempo futuro). O tempo verbal em que está indica que era um ato mais demorado, sem pressa, um tempo de espera.
·         A Quaresma é o tempo de dar-se conta que Deus quer encontrar-se connosco. Ao lermos este texto devemos sentir-nos procurados por Deus. Não é possível ler este texto sem o ligar com a Paixão de Jesus. Também na cruz Ele fez o mesmo pedido “Tenho sede”. Por outro lado, a hora sexta é a hora do máximo calor e da luz (S. João usa uma linguagem simbólica entre a luz e as trevas. A noite no evangelho de S. João é quando Jesus não está e a hora sexta é quando Jesus está. No texto bíblico do Livro do Gn 24,11-15 a hora em que as mulheres saem para ir buscar a água não é ao meio dia, mas à tarde, à hora de menos calor.
De seguida, a reflexão incidiu sobre o diálogo entre Jesus e a mulher samaritana
Jesus disse-lhe:1.  Dá-me de beber!
·         Com este pedido Jesus quer saber que disponibilidade existe nesta mulher. Como dizia Santo Agostinho, Jesus tinha sede da fé daquela mulher.
2. De onde vais tirar a água viva?
·         A expressão “de onde” remete-nos para uma origem.
A água que eu lhe darei tornar-se-á nele um poço de água a saltar para a vida eterna.
·         A vida eterna tem aqui o sentido de uma forma nova de viver.
Este é um pobre resumo de quanta reflexão/oração feita naquela noite. O coração de cada um, presente no encontro daquela noite, terá guardado muito mais do que nos é possível expressar aqui.
O encontro terminou com algumas perguntas deixadas como pistas para a oração pessoal de cada um, para me interrogar sobre o que me diz este texto ou como é que este texto lê a minha pessoa, a minha vida. Este é um exercício de reflexão individual que cada um e cada uma poderá fazer nesta quaresma.
Aqui ficam as pistas:
1.      Tento fazer memória da minha história e entregá-la nas mãos do Senhor.
2.      Quais são os meus poços, de onde bebo água que não sacia? Apresento ao Senhor aquilo que me falta para uma vida plena.
3.      Quais são os meus cântaros, isto é, os pesos, que o Senhor me pede que eu deponha aos seus pés?
4.      Tento definir a minha relação com Jesus: como a definirei? Com que adjectivos?
5.      Quais as resistências que apresento dentro de mim perante as declarações de Jesus?
CR

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