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sábado, 21 de março de 2020

IV DOMINGO DA QUARESMA

O 4º Domingo da Quaresma, também conhecido como Domingo da alegria (Laetare), faz-nos refletir sobre a experiência do “cego de nascimento”. O cego de nascença é um desvalido total, sem presente e sem futuro. Um mendigo, sem esperança.

O texto bíblico acentua a dimensão coletiva do pecado (família, vizinhos, fariseus) e do “pecado do mundo”; o pecado coletivo como fruto de pecados individuais; o mistério do mal encarnado no cego que não encontra resposta nos ouvintes; a cegueira coletiva que não deixa ver os sinais de Deus; a ignorância popular (dos que não vêem) e a ignorância intelectual (dos que não querem ver).

Frente ao milagre, que era por demais evidente, vem ao de cima a cegueira popular. Que é uma espécie de ignorância inocente, alimentada por uma má informação, sustentada pelo medo opressor da classe dirigente... manifestamente um saber que não passa do dito e ouvido. Como não se vê bem, procura-se ver aquilo que se quer! É a cegueira de quem pergunta tudo, mais pela curiosidade de saber do que pelo desejo de conhecer a verdade. Cegueira popular, de que é vítima este cego, figura do povo condenado a não sair da “cepa torta”, a permanecer nas trevas da ignorância e do desprezo.

Mas há outra cegueira. Essa mais refinada. A dos fariseus. Eu diria, uma cegueira intelectual. Estes perguntam para chegarem sempre às conclusões já sabidas. Interrogam para confirmar as suas posições e não para as discutir. Viram o bico ao prego, para fazer preto do branco e manter o seu lugar. Estes não querem ver, nem deixar ver. Os olhos abertos dos outros representam uma ameaça para eles. Daí o interrogatório inquisidor, as perguntas inúteis. Atingidos pela luz, ficam eles cegos, para não ver o que não gostam. E cegam os outros para não deixar vir à luz nem os erros próprios nem as virtudes alheias. Duas cegueiras na história do cego.

Só o encontro com Cristo liberta da cegueira e do pecado, só Cristo oferece chave de compreensão para o mistério do mal, só aderindo à luz de Cristo o homem se torna “filho da Luz” e neutraliza o efeito do pecado do mundo. A iniciativa arranca de Cristo, que viu, ao passar, um homem, cego de nascença. O cego lava-se em Cristo e ao ser batizado em Cristo é iluminado.

No Batismo, somos libertados das trevas do mal e recebemos a luz de Cristo para viver como filhos da luz. Também nós devemos aprender a ver a presença de Deus no rosto de Cristo e, assim, a luz. No caminho dos catecúmenos, celebra-se o segundo escrutínio.

Aqui percebe-se o batismo como sacramento da iluminação, antigo nome cristão que evoca a iniciação aos mistérios, a luz que irrompe das trevas, a progressiva ilustração da mente e do coração, por meio da luz da palavra e da fé, que fazem do cristão um iluminado por Cristo. O cego progressivamente iluminado e lavado na piscina de Siloé, é imagem da iluminação batismal, que afugenta as trevas e abre à luz da verdade, deixando cair as escamas dos olhos, como no caso de Paulo. Ele ilumina todas as obscuridades da vida e leva o homem a viver como “filho da luz”. Só o encontro com Cristo oferece a chave de leitura das nossas vidas incompreendidas e incompletas. A iluminação recebida no Batismo deve difundir-se entre as luzes e as sombras do nosso peregrinar.

A Igreja Antiga designou o Batismo como fotismos, como sacramento da iluminação, como uma comunicação de luz e ligou-o inseparavelmente com a ressurreição de Cristo. A vela batismal é o símbolo da iluminação que nos é concedida no Batismo. Assim, nesta hora, também São Paulo nos fala de modo muito imediato. Na Carta aos Filipenses, diz que, no meio de uma geração má e perversa, os cristãos deveriam brilhar como astros no mundo (cf. Fil 2,15).

Que a pequena chama de vela, que Ele acendeu em nós, a luz delicada da sua Palavra e do Seu amor no meio das confusões deste tempo não se apague em nós, mas que se torne cada vez mais forte e mais esplendorosa. Para que sejamos com Ele filhos do dia, astros para o nosso tempo. (Texto tirado dos “Cinco passos da lectio divina para a memória viva do batismo”, Diocese de Coimbra)

Pe. Carlos Correia
Imagem: Internet

1 comentário:

Maria Gomes disse...

Bem Haja Padre Carlos por este belo texto de reflexão. Para mim, realço o 4º paragrafo sobre a cegueira refinada! até dói, sentir que também temos aqui a nossa cota representada...