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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O REGRESSO DA MISSÃO

Já demos conta do regresso da Rafaela, que terminou a sua missão de voluntariado em S. Tomé. Durante os três meses que ali permaneceu foi-nos contando a sua experiência e a riqueza que ela lhe estava a proporcionar. Agora, em jeito de "balanço" e com a distância que a separa da realidade vivida, escreve mais uma crónica que partilha com todos nós.
 
Após mais de uma semana em Portugal, encerro o capítulo Paróquia de Neves – Setembro a Dezembro de 2010.
 
É lindo, olhar para trás e ver três meses de gratuidade, crescimento, familiaridade, carinho, entrega, coragem, fé, desprendimento… felicidade. Em São Tomé fui feliz, e trouxe para casa a mesma felicidade que lá vivi, por um motivo muito simples, a aprendizagem. 
No olhar simples encontrei as respostas que precisava.  Os últimos dias em Lembá, foram muito intensos… de domingo a sexta feira (dia da minha partida) dormi em média duas horas por noite, duas delas fiz directas… para poder deixar a exposição dos trabalhos dos meus diabretes pronta…
Na terça feira, fiz a árvore de natal com os diabretes, com as estrelas de pacotes de leite… e um grande sorriso da parte deles e, um maior da minha parte… grande árvore de natal. Linda! Foi ainda a festa de natal do lar de idosos… e o giro é o pós festa. O almoço… os bolos… dos “organizadores e colaboradores”… que, do qual não fazia parte, mas também comi, e ri-me, e diverti-me… e levei com um “ché, já vais!”
 
Na quarta feira as irmãs, doces como sempre, foram passear comigo, numa ultima visita à ilha… Cascata Bombaim, Cascata São Nicolau, Jardim Botânico Obô, Club Santana, Boca do Inferno, Água Izé, Trindade, … tantos outros sítios… que as Irmãs, de jeito a bom anfitrião, fazem o seu papel de mostrar a casa, na despedida.
Na quinta-feira… bem a minha despedida dos meus diabretes, foi leva-los a ver a exposição dos seus trabalhos: o presépio (de papel e trapos), a lagarta de plasticina, o postal do Dia da Mãe (a 08 de Dezembro… como antigamente), o postal de Natal e o anjo…. Bem o rosto deles… tudo disse. Receberam um beijito e um postal de despedida… e um adeus. Bem… eles perceberam e, eu também!
 
Despedi-me de todos, gradualmente e muito “soft”, foi engraçado… da Irmã Rita, um doce de pessoa… muitos doces me deu ou mandava… e no ultimo cafezito… mais uma saquita de biscoitos de mel! A despedida das Irmãs da Paróquia de Neves, da Patrícia, da Ana, da Petiza, da Beth, da Josseline, da Kátia… foi complicada! De algumas… e alguns… nem houve despedida. É difícil partir de Portugal…
 mas mais difícil foi partir de Lembá!
Aquando da minha partida para a Missão das Neves… nada esperava, nada ansiava, nada deixava, partia simplesmente num acto de humildade e entrega. Nunca contava que aprendesse tanto, e muito menos, recebesse tanto.
 
Nunca cheguei ao fundo do poço, como se costuma dizer, mas não estava feliz nem segura…. É impressionante como esta paragem me deu novo fôlego.
Esta missão foi uma pausa a uma “Rafaela” para um recomeço de uma “RAFAELA”. Aquelas árvores gigantes fizeram-me perceber a pequenez em que vivia. A falta de água ou energia eléctrica, fez-me ver que tudo tinha e nada usufruía.
Como a minha música preferida: Dream on girl “Come back to see the day - Volta para veres o dia You lost your heart and all your hopes- que perdeste o teu coraçao todas as tuas esperancas I'll take you to see the sunrise - Eu levar-te-ei para veres o nascer do sol And try to catch your ghost - e tentar apanhar o teu fantasma ” Eu sonhei e regressei aos dias em que perdi a esperança e, alguém me levou a ver o pôr do sol ( e que lindo pôr do sol!) e ajudou-me a apanhar todos os meus fantasmas. Fantasmas, que eram (e são) tantos… mas que vinham sob a forma de mágoas, dores e perdas que transformei em marcas, aprendizagens e força. Todas as cicatrizes tornaram-se troféus, para que olhe para as mesmos e, me lembre que sou muito mais em Cristo. Trouxe amigos, trouxe prendas, trouxe a essência de Lembá em mim… se aquando da minha viagem para São Tomé pensava no que estava a deixar para trás… a minha família e as perdas que tivera. Aquando da minha viagem de regresso, para além de dormir (e como dormi!), esboçava um sorriso, a cada pensamento, a cada lembrança, a cada momento que me vinha à memória da minha passagem por São Tomé. Tantas pessoas, tanto carinho, tanto cuidado…. Tanto amor (arrisco! Ouso dizer!)
Na terra da escravidão, fiquei livre. Na terra do nada, recuperei tudo. Na terra de São Tomé,… regressei. Readapto-me ao frio…. Depois do meu mais longo verão - tempo de calor, praia, férias, paixão e aventura - sou livre. Parti dorida, alegrezita, confiantezita, despojada, sem grande interesse por nada… Nesta quadra, particularmente difícil, mas de esperança e fé, cheguei a Portugal… alegre… Regressei feliz, completa, confiante, humilde e apaixonada. Recuperei a paixão. Como alguém me dizia: “ Ao partires por dois meses para ajudares os outros, significa que não te importas comigo!”… tinha razão… essa importância era demasiado pequena para aquilo que eu iria a vir descobrir e encontrar. 
Estes três meses, foram uma prova de amor perante aqueles que realmente gostam e se importam para comigo, todos os laços foram fortalecidos. Nas minhas orações estarão todos aqueles que comigo estiveram durante esta missão, de São Tomé a Portugal, de Neves a Vilar do Paraíso, a minha gratidão estendesse a uma simples oração. Desejo que Deus ilumine os caminhos de cada um dos que comigo estiveram, já que sou uma afortunada… pois o meu caminho é iluminado por uma linda estrela. A minha estrela. Sou eu. A viver o meu Natal. O Natal da minha família. O nosso Natal. Mesmo com aqueles que estão longe. Estarão sempre perto. O Natal… esperança… a minha estrela brilha. Sou eu. Feliz. Eu, a de sempre… mas com esperança e livre. Uma missão, uma pausa, uma separação transformada numa pessoa de Amor. Afinal sabia o que precisava. Precisava de… encontrar-me… de encontrar a minha fé.
Encerro a Missão Neves Setembro/Dezembro 2010, com grande saudade e carinho! Beijito. Chauê, migú múm!

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