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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A ÚLTIMA MENSAGEM EM SÃO TOMÉ

Bem amigos, estes últimos dias tem sido de trabalho… e muito trabalho! Não há praia nem passeio, pois tem chovido torrencial e diariamente… além de não ter tempo é perigoso com as derrocadas e inundações! Contudo a vidita corre e bem.
 
Fiz a minha primeira experiência a andar de transportes públicos! Uma Toyota Hiace, anterior aos anos 80, de nove lugares, 15 pessoas lá dentro, um porco gigante, bacias de peixe… 28 km… 45 minutos… e, por Amor da Santa, parece a montanha russa…. Cada susto! Mas engraçado, “branca” vai à frente, ou vai no banco de trás só com duas ou três pessoas… não vai “amontoada”! As minhas idas à capital agora, hum… já acontecem porque vou de “hiace”. Ora vou almoçar com os leigos, ora vou aos correios, ou tomar café… como dizem, ninguém sai de São Tomé sem a experiência “iáce”.
 
Fiz um retiro com o grupo de Crisma (o 3º ano) em Monteforte e depois viemos a pé… bem, é perto! Uma hora… a andar… eu explico, apanham-me mais uma vez no fim da missa e convidam-me para ir… depois venho a pé… Santa Mãe!

Faz-se bem… conversa-se, vêem-se arvores gigantes… pelos campo fora…Mãe Santa, até ela espanta! A minha catequese, essa, cresce… parecem cogumelos… aparecem todos os sábados, novos Catequizandos.

Bem o engraçado, é que começam a despedir-se; ora aparecem na escola para saber quando vou embora, ora, abrem a discoteca para a minha despedida.

Ah! Grande noite! Bem, discoteca? É uma coisa engraçada… na qual passei parte da noite (no final de tarde) quieta, pois não sei dançar… e que danças, Santíssima! Começou às 20h30 e eram 23h00 estávamos a “correr” para casa… já era tardíssimo… Bem valeu a noite, dormiram no meu quarto, quatro meninas dóceis… foi giro… giríssimo.

Começam as festas de Natal, e na terça, fomos ao Hospital Central, entregar prendas à pediatria e passar na Cáritas para entregar prendas e levar um “Feliz Natal” a todos… bem, imaginemos, 125 crianças de 5 e 6 anos, quatro educadores, duas professoras, uma Irmã, duas brancas e uma auxiliar… seis motoristas e seis ajudantes… em… quantos carros? Vá lá!
   
Seis… eu repito SEIS hiaces (carros de nove lugares!)… conclusão vou, à frente, outra branca, o motorista e três crianças… mas a alegria deles de irem à cidade, de terem as batas com os nomes bordados nos gatos (benditos gatos!)… valeu a pena o “sacrifício” de uma hora de viagem… nestas condições. Claro, que ainda na quarta-feira, fui tomar café à cidade ( a um Salão de Chá! Santa Mãe! Que coisa…) e fui e vim de Hiace… para lá normal… 12 pessoas… para cá… viemos… ora vá, advinhem… 20 adultos, bem constituídos… e duas crianças! Bem… São Tomé na sua pureza.
 
Sábado foi uma correria! De manhã fui para Santa Catarina, mais uma vez apanhada desprevenida, para um retiro… no caminho parei… e parei… para fotos, apanhar pedras… ir a Anambó – local onde os portugueses desembarcaram pela primeira vez. Á tarde, fui à festa da Nossa Senhora da Conceição em Ponta Figo e, ainda vim à catequese… despedir-me dos meus meninos!
 
Domingo, bem…. Difícil! Ia para a praia, mas o pneu furou… e mudamos de carro… fomos no “pinchas”, um Land Cruise com mais de 20anos e uma “tecnologia” irreconhecível… de rir… a praia essa, estava má, o mar estava zangado! Estava vento… mas água quente e banhos de horas! É impressionante o “mau tempo” aqui. Grande praia. Grandes risos! Grandes amigas!
 
Quarta feira... hoje... fiz a árvore de Natal com os diabretes... que felicidade uma arvore palmeira... estrelas pintadas por eles... estrelas de papel de pacotes de leite... e um grande sorriso... a felicidade deles. Minha Santa! Depois fui à festa do lar de Idosos... ena! O final é que foi engraçado! O almoço dos trabalhadores e aproveitam para a minha despedida... Por Amor da Santa Mãe! "No Coments"! Só risos e gargalhadas!! Fotos da próxima vez! ah! Não há mais! Acabou!

 
Começo a organizar as minhas coisas… inclusive as fotos… e já vão… 4500 fotos… mas nenhuma delas retrata o que vivo, o que vejo, o que sinto… os cheiros, os sons, o calor, o suor a correr pela testa… o carinho… o “Rafaêlha!” … bem… Por Amor da Santa,…. até ela espanta! Tanto tempo… cerca de 93 dias, após a minha chegada a São Tomé… a menos de três dias da minha partida para Portugal… penso e relembro a minha vidita à 12 semanas atrás! Santa Mãe… devia estar anestesiada pela vida, pois foi tudo tão natural… a minha partida, pareceu um “ vou de autocarro até à baixa e venho já!”. Não me preocupei com nada, não preparei nada, não me despedi de ninguém, não fiz grandes planos… agora tenho consciência de que a decisão de partir, foi a melhor decisão.
A decisão mais acertada! A decisão mais difícil da minha vida, mas a mais eficaz e eficiente. As grandes decisões são, supostamente, aquelas que gastamos mais tempo a decidir, e, por consequência, vemos os prós e contras, benefícios e custos, riscos e certezas, chegamos a um impasse, e queremos e não queremos… e dizemos SIM, NÃO, SIM, NÃO… e sai um “NIM” ou um “SÃO”, pois damos uma resposta incerta….
A minha decisão foi tomada em poucos dias, a sua preparação levou 13 anos. O desejo de partir numa missão acompanha-me à muitos anos, mas só em Maio deste ano tive coragem de dar o primeiro passo – oferecer-me como voluntária – e em Junho recebo a resposta afirmativa. A 17 de Julho, oferecem-me a oportunidade de partir em Setembro para São Tomé e Príncipe; a vida corre, mas a certeza da partida está dependente da aprovação da Congregação. A 18 de Setembro fica confirmada a minha partida no dia 24… sete dias antes. Na noite anterior, à minha partida meto tudo dentro de uma mala (mala com o tamanho da que uso para transportar a roupa, apenas roupa, quando faço férias de cerca de uma semana; e para três meses, meti na mesma mala, roupa, sapatos, medicamentos, produtos de higiene, livros, toalhas… para três meses! A mala da roupa para uma semana!).
  
Parti, com a lágrima no olho, naturalmente, por deixar para trás os meus amigos, os meus irmãos, o meu sobrinho, e a minha Mãe… mas parti como se fosse ali, já naquela esquina. Sem pensar no que ficava, sem preocupação no que ia encontrar… ou no que não ia encontrar, parti livre e humilde… despojada de tudo…
Hoje, a vontade de fazer a mala é a mesma de há 12 semanas atrás: NENHUMA! Não me apetece levar nada… não preciso de nada que caiba na mala! Mas o pensar partir… essa sensação sim… é estranha.
Que me perdoem os que leem estas notas (supostamente são os que se interessam por mim!), mas a vontade de partir é de 50%. A de ficar é 50%. Tenho saudades de casa, da minha mãe, dos meus irmãos, do meu Kiko, dos meus amigos, dos meus meninos,… mas fica um trabalho completamente inacabado com estas crianças, com estes jovens, com estes adultos. Por Amor da Santa. Um trabalho inacabado em mim! São Tomé podia ser na próxima esquina de Vilar do Paraíso, não podia? “Poder, até podia! Mas não era a mesma coisa!”
Chegarei dia 17 de Dezembro às 13h de Lisboa e de São Tomé e Príncipe (têm o mesmo fuso horário!), eu, Rafaela, que parti sem nada… regresso com a mala cheia, cheia de alegria, de calor, de sol, de praia (foi o Verão mais quente e longo alguma vez vivido!)… a mala cheia de esperança, saudade, paixão e amizade! Aprendi, a viver com paixão, com gosto e, simplesmente, a viver aceitando o que tenho e sou.
Para quê falar… o que vivo, é uma experiência minha… radical… por ventura egoísta (pois abandonei tudo e todos), profunda e fascinante! Não sou completamente feliz (porque faltas tu!), nem encontrei a equação perfeita da felicidade… encontrei, sim, o meu equilíbrio, e enterrei as dores, guardei as boas recordações, aceitei as minhas insuficiências e deficiências (tantas! São tantas!), ganhei força para enfrentar as dificuldades e obstáculos, ou simplesmente aceitá-los, valorizei o que tenho e não perco
 tempo com o que perdi, enfrento a realidade! 
Sou eu, igual a mim mesma (mais gorda!), mas a Rafaela que saiu de Portugal com uma visão de que a vida podia ser melhor se…. Esses “ses”… que agora, são “sou”, “posso”, “tento”, “faço”… a vida é melhor. Basta vê-la!
Deus sempre esteve comigo, e nesta missão experimentei o seu amor e graça. É agradável saber que não sabia o quanto tinha e não dava valor, porque me faltava algo… que conhecia mas não o sabia. Faltava-me a humildade e paixão!
 
Agora sim, é a despedida de notas de São Tomé (infelizmente!), despeço-me com um “até já”! Parto… para chegar! Beijito! Chauê!
Carla Rafaela

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